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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

polícia da maternidade

Um pequeno texto sobre ser mãe (ou não).

Hoje, no escritório, vi a foto de uma bebê, sobrinha do meu chefe, achei uma graça e comentei algo do tipo "ah, que lindinha, dá até vontade de ser mãe!", pronto, confusão armada. Na hora a minha chefe começou uma enxurrada de comentários bem hostis, do tipo:

- ué mas você não toda anarquista? (???)
- como assim, uma feminista querendo ter filho?! (!!!)
- você não diz que não vai casar.
- você é contraditória, Bia, como pode?!

Gente, não estou louca mas acho que ela tá, ou no mínimo não sabe o básico dos conceitos que envolvem o meu estilo de vida (em eterna construção). Pouco sabe de liberdade e da vida libertária.
Retruquei, não da forma incisiva que ela merecia, mas tentei demonstrar de forma clara de que levo a política a sério, e tento agir em todos os campos da minha vida de acordo. Falei algo do tipo "ué, eu sou livre, anarquismo me dá amparo pra lutar contra o Estado, o feminismo me dá segurança e força pra tomar as decisões que envolvem o meu corpo e a minha luta - o que incluí optar pela maternidade, e casar é simplesmente o ponto mais imbecil, minha mãe criou três filhos sozinha, ponto.

Não sei se quero, ou não, um dia ter um filho, mas ninguém nesse mundo pode me dizer o que fazer em relação à isso, e me chamar de contraditória foi o que me deixou mais puta da vida nessa acusação e constatação policialesca (e completamente dispensável).

Obrigada, da minha vida cuido eu, e conselhos só aceito de quem me quer muito bem (e quando eu peço).




quarta-feira, 30 de julho de 2014

carta

Meu amor,

Esses dias eu estava numa pior, desabafei com você, mil caracteres, horas e horas reclamando do quanto a minha família é complicada e avessa a minha liberdade e o meu gosto imensurável por todo esse amor. Você, como sempre me ouviu, e me disse as palavras que cada vez mas eu vejo serem cheias de sabedoria, você me fascina e eu já dizia antes mesmo de saber o seu nome.
Como forma de conselho você disse que seria bom escrever uma carta, para qualquer pessoa, até mesmo pra mim, e hoje, depois de uma semana me bateu essa vontade: de escrever pra você, pelo simples motivo de que você me faz bem e eu quero falar sobre amor.
Você entrou na minha vida de um jeito estranho, nunca pensei que seria namorada de um homem casado, não que isso me importe mas era algo distante da minha realidade, também nunca pensei que pudesse amar alguém de uma jeito tão honesto, tão singelo mas tão forte desse jeito que te amo. Você apareceu no meu momento mais “vida loka”, logo depois que a minha mãe morreu, meus dias eram cinzas, confusos e entorpecidos, e logo você, com uma vida tão bagunçada para os padrões me trouxe uma tranquilidade que nem imaginava.
Com você o meu jeito tranquilo fica mais tranquilo ainda, a minha compreensão a respeito do relacionamento e da vida surge naturalmente, parece que quanto mais eu amo mais eu quero amar, não só você mas tudo na minha vida, cada pessoa que escolhi pra ter do meu lado, minha relação com você é algo que age como um multiplicador, sinto tudo que é bom crescendo.
Além de tudo isso estar com você me deu segurança para minha aceitação de várias coisas que me incomodam, descontruir também se tornou mais fácil, seu apoio, ouvidos e ombros tem ajudado em muito a minha mente e o meu coração. Outra coisa que me faz bem é além de você ter uma certa identificação com o seu outro amor, gosto dela, vejo uma amiga, e quando digo que quero todos bem e pura verdade, você já percebeu que quero todos que estão comigo bem, e tudo que puder fazer vou fazer, é só mais amor.
Ontem passamos a noite juntos, e nossa, é incrível como cada vez eu sinto que além do meu coração e toda essa coisa abstrata meu corpo também te ama! Você não faz ideia do efeito que tem o seu cheiro, a sua respiração na minha nuca e cada movimento envolvido, juro, meu corpo sente os seus efeitos até de longe, como agora! Acho que é um mecanismo que simplesmente existe para que eu não fique triste de saudade com a sua ausência, que é uma condição de tudo isso.

Tenho tido dias incríveis desde que te conheci de fato, depois daquele Carnaval maluco cheio de lama e cerveja, naquele dia a sua barba já tinha me conquistado. Você sabe que eu sou bem supersticiosa, e vou criando datas e significados aleatórios pra um monte de coisas e arrisco dizer que esse meu último aniversário, pouco mais de um mês atrás, foi um dos dias mais felizes da minha vida, você disse que me amava, com a gente se atracando na mureta do bar, tão eu e você... E eu estava com os meus amigos que cada vez eu também amo mais, uma doideira esse amor todo que não cabe em mim.

Talvez você nunca leia esse monte de baboseiras apaixonadas, escritas depois de uma noite com você, onde mesmo no escuro eu ria enquanto a gente trepava, simplesmente por estar feliz pela sua companhia e tudo envolvido.

Eu te amo, e quero que você continue na minha vida.

Beijos,
B.

segunda-feira, 17 de março de 2014

bons ares

minha mãe nunca curtiu muito que eu saisse de casa, ainda mais se fosse pra viajar. o dinheiro (a falta de) também nunca. mas pra isso existe o grito de liberdade - que nesse caso foi alinhado a morte da minha mãe, e existe a possibilidade do endividamento.
num momento de impulsão eu e a minha irmã decidimos que iriamos viajar, caçamos umas passagens baratas e decidimos que iriamos pra Buenos Aires. Passagem comprada em mil vezes, hostel humilde reservado, mochila nas costas, fomos.
chegamos na madrugada, passamos a noite no aeroporto devido a recusa de pagar uma pequena fortuna nos parametros do nosso orçamento de miséria pelo táxi. confusão e finalmente pegamos o ônibus, duas longas horas de viagem entre uma pescada e outra.
centro da cidade, duas meninas perdidas, cansadas. a hora do check in não chegava nunca. chegou, quarto cheio (11 pessoas), só os piores leitos disponiveis, era o que tinha, ah, tinha mal humor de sobra também.
primeiro dia foi traumatizante. o segundo foi melhor, o melhor. uns amigos, um alemão disposto a ir pra balada, caminhada noturna fazendo questão de me diferenciar das argentinas com os sapatos feios, roupa brasileira, jeito brasileiro no bar de rock, depois as companhias seriam brasileiras, da cidade vizinha.
sai da balada, dribla os bons costumes, um taxista egipcio maluco, um parque cheio de travestis, seis malucos dentro de um carro.
outra balada, lugar de gente estranha, música ruim mas com cerveja barata. um beijo no brasileiro.
volta pro hostel, muitas risadas, as lembranças da noite surreal cheia de maluquice.
outro dia, mais bater de pernas, ver a cidade, fotografar a cidade. gostei dos prédios, das pixações.
mais um dia, brigas com a minha irmã geniosa. mais bater de pernas. mais experiências, mais cheiros, sabores, pessoas e cores.

nunca seremos mais as mesmas, cada viagem e cada dia tem o poder de mudar a gente, mas esses foram dias intensos. vi com os meus olhos.

planejando a próxima.
quien te digo que esos son tus ojos? - Calle Venezuela

sobre os homens babacas da minha vida

na minha vida se tem uma coisa que sobra são os homens babacas.
desde o meu pai até os casos mais fugazes, o que não me faltam são histórias tristes, com participações machistas e casos bizarros.
meu pai foi (e é) um safado, nunca assumiu responsabilidade alguma, nasceu pra ser boa vida, se encosta onde pode e não tá nem ai pra nada, vai vivendo bem e pronto. partiu meu coração ao se revelar um egoista que não ligava pra mim e batia na minha mãe.
meu irmão é o retrato do reaça, foi criado na burguesia e alimenta o mundo dos sonhos burgueses até hoje. me chama de puta, "anarquistinha de merda" e odeia ver cada conquista da minha liberdade.
ai a gente vai crescendo e vem os casos, o menininho bonitinho que nem te olha no colégio, já que você não se entende e não se vê como uma "lady", ou seja, você resiste a ditadura das patricinhas e acaba se tornando uma maloqueira que gosta de rock n' roll ao invés de boys band, adora falar palavrões e nem por isso deixa de ler, afinal o sonho é ser intelectual, então você lê até não poder mais na esperança de ser inteligente o suficiente de um dia mudar o mundo.
chega o dia que finalmente você começa a saber um pouco mais sobre você mesma, eu no caso aprendi a me achar bonita com os meus cabelos pretos e usar o meu jeito libertário (que eu nem sabia que era libertário, só queria ser livre pra decidir e viver) pra finalmente chegar perto do "prazer" carnal, ai beija um, pega o outro (o que demorou um bocado de anos) e não muito tempo depois eu perdi a virgindade, num motel fuleiro com o Datena na televisão, apesar de tudo foi do jeito que EU quis, tudo bem que o moço em questão sempre achou que era o fodelão, se mostrou machista e a minha liberdade sexual não foi compreendida, virei a pirada, maluca da história, história que correu a "firma".
liguei o foda-se, eu sei que não sou uma vadia, aliás, se escolher o que eu quero fazer e com quem é ser vadia então eu sou com muito orgulho. O CORPO É MEU, A VIDA É MINHA.

ai hoje, mais uma prova de que não falta babaca nesse mundo, briguei com um cara que eu fiquei, pensei que o sujeito era gente boa, sabe como é, essa ilusão de que cara mais velho e estudado é inteligente, mas não, o imbecil de 28 anos adorava me contrariar, adoraria controlar mas não conseguiu, me excluiu da vida dele, inclusive virtualmente, tudo isso por ser nas palavras dele "toda errada" - toda errada por beber, fumar, tomar banhos quentes, não ser uma assidua frequentadora das aulas na gloriosa Pontifícia dentre uma série de atos que pra mim só asseguram a minha liberdade. sempre falei o que quis pro infeliz (que não conseguia argumentar nunca), quem fala o que quer ouve o que não quer costuma não gostar, foi o que aconteceu. um FODA-SE bem grande pra ele, a minha revolta não é dor de cotovelo, é incompreensão no machismo.

gente babaca e gente folgada não faltam, não gosto dos dois tipos. prefiro os libertários, malucos, tortos e errados.
ser certo nessa sociedade é ser errado no meu mundo.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

carnaval

O conheci no Carnaval,
Época do pecado, dos dias quentes.
Choveu tanto, sambei tanto com os tambores e tamborins que não paravam.

Olhei, vi. Gostei de cara do sujeito,  seu jeito.
Ele me olhou, me viu.

Depois de um tempo me olhou e meu viu denovo.
Outra vez a chuva, outra vez os meios sorrisos.

Meu olhou, me viu.
Nua, sua.


Não quero que esses dias quentes acabem.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014